terça-feira, 22 de abril de 2014

Vivência não monogâmica para mulheres

Alerta: esse não é um texto heteronormativo. Mas, a situação relatada ocorre, predominantemente, em relacionamentos entre homens e mulheres. 


Eu sei que existem pessoas que desconhecem a não monogamia como um modo de se relacionar afetiva/sexualmente. Não há unanimidade nem mesmo nos moldes de relacionamentos entre quem pensa que a monogamia não é uma opção. E sei que há um grande grupos de pessoas que rechaça a ideia que a ausência de exclusividade pode trazer em uma relação. Essa postagem não trata dessa situação como escolha ou compulsoriedade. Ela fala de violência.

Se você é mulher não monogâmica, já deve ter sentido o peso dessa subversão. O julgamento inicial que o patriarcado proporciona é de que você compõe o grupo de mulheres vadias que não merece nenhum respeito. Um carimbo de que não é mulher séria, que não merece casar (mesmo que muitas de nós não esteja interessada), de libertina.

Entenda, eu não tenho absolutamente nada contra a liberdade sexual das pessoas. Liberdade de fazer sexo por sexo. De querer sexo descomplicado (o tal “sexo fácil”). De desvincular romantismo desse assunto. Não falo do medo moralista da expressão “libertinagem”. Sem higienismo. Liberdade engloba tudo isso aí.

Eu presumo que desses julgamentos você já saiba se proteger. É da sua natureza livre.

O problema é quando aquele homem, que se afirma seu aliado na contestação da monogamia, que está ali pra caminhar do seu lado, te impõe uma série de regras de comportamentos para que você seja alocada na casinha das libertárias. Ele vai te julgar por não querer alguma prática. Ou vai te condenar por dizer não. Te chamar de frígida talvez, pode até questionar sua autenticidade no movimento. Ele vai tentar te diminuir até que você diga sim. 

Deveria ser obrigatório, antes de adentrar em meios não monogâmicos, que o homem tivesse noções de feminismo. Que soubesse que a monogamia foi uma imposição para controlar a sexualidade da mulher com o intuito de assegurar a transmissão da propriedade aos seus. Eu acredito que amenizaria as reclamações, recorrentes, de companheiras assediadas sob essa alegação. Mulheres que tiveram seus corpos e sua integridade desrespeitada.

Mulher, se empodere! Use as armas que o feminismo lhe trouxe. Não permita que te imponham conceitos equivocados sobre liberdade, que ditem o que você deve ou não fazer, que te empurrem uma validação dispensável.

Sexualidade compulsória é violência, sabia? Das bravas. Boicote os assimilacionistas.

11 comentários:

  1. a gente é criada uma vida toda pra sempre se desculpar, pra não sermos donas de nossas vidas, pra arrumar marido, isso é uma merda tão grande. aí qualquer pessoa que queira sair da fôrma é violentamente acusada e xingada.

    lembro de ter conversado com o ex- sobre questão de monogamia e nós dois concordamos em manter só um parceiro, pq a gente se sentia bem assim, um com o outro. e acho que se os casais tivessem esse tipo de diálogo, essa agressão toda a quem não é monogâmico seria certamente diminuída.

    ser monogâmico tem que parar de parecer um padrão baixado para todo mundo e ser apenas mais um arranjo afetivo entre as pessoas, sem julgamentos, sem preconceitos. e que cada um possa desfrutar seu corpo ou o corpo de outrem sem toda essa merda.

    um ótimo texto!

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    1. Sim, Anônimo. Nossa criação é de submissão, somos condicionadas a agradar o homem. A compulsoriedade da monogamia vem acompanhada da heteronormatividade. A família, a tevê, os livros, a escola, tudo dizendo como você deve se portar para ter um relacionamento monogâmico para fins de constituição de família. Nenhuma outra opção nos é dada.

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  2. Pra mim, os homens caso tenham noções de feminismo vão continuar os mesmos, pq o q ocorreu comigo foi com um cara com discurso libertário e um pouco feminista. Ele forçou tanto a barra, que eu comecei a chorar e olha que eu estava querendo muito, mas não queria fazer o q ele queria, na hora q ele qria e o modo que ele insistia me fazia sentir uma coisa. Foi horrível, apesar de não ter ocorrido o sexo e o cara um dia me perguntou o q eu tinha contra ele já que a gnt já tinha até ficado, sendo que sai da casa dele chorando e deixei claro que achei que ele tava forçando a barra

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    1. Infelizmente há muito cara se afirmando feminista e reproduzindo, no que tange ao direito de dizer não, comportamento de machista babaca. Precisamos, portanto, reafirmar sempre a existência da cultura de estupro.

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  3. A liberação sexual feminina quebrou (ou está quebrando) o tabu da virgindade feminina, mas criou um problema: devido a essa liberação todas nós mulheres somos "obrigadas" a experimentar certas práticas sexuais. E depois de experimentadas, temos a obrigação de gostar delas! Alguns homens sabendo da liberação sexual de algumas mulheres acham que as mesmas são obrigadas a realizar qualquer prática sexual. E que a negação quer dizer que a mulher é "travada" e no fundo ela é uma conservadora. Tipo, gosto pessoal não existe... Já enchi o saco disso tb...

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    1. Acho que ainda há muito tabu envolvendo a sexualidade feminina: acho que as pessoas até "aceitam" hoje que mulheres façam sexo fora do casamento, mas acham que mulheres só transam por amor e/ou transam para agradar os homens, principalmente. (Ô heteronormatividade).

      E a gente continua sendo criada pra caso a gente transar que seja para agradar o homem: as revistas, as novelas, até mesmo os papos tradicionais entre mulheres, o que se fala sobre sexo é sobre "como agradar o cara" e nada sobre se agradar, dar prazer a si mesma através da masturbação... Tudo coloca o homem como início e fim do sexo.

      Ai, né, o ambiente pode ser libertário o que for, que ainda existirá a ideia de que a nossa vontade de transar é subserviente a do homem. Ou seja, eu posso não curtir penetração, mas se eu recuso, porque não gosto, eu não tô agradando. E ai usam esse papo de liberdade pra tentar nos coagir, né? Como se liberdade fosse fazer o que o outro quer que você faça porque ele curte.

      Quero viver num mundo em que mulheres possam ser livres pra falar de sexo e de masturbação sem serem vistas como "vadias". E que todas nós possamos falar sobre o que gostamos e o que não gostamos, sem sermos taxadas de frígidas. Taxar alguém de frígida por não fazer uma modalidade de sexo é restringir o direito da pessoa ao próprio corpo.

      Esse texto me fez pensar no quanto os caras insistem para práticas como sexo anal, tanto em relacionamentos monogâmicos quanto em não monogâmicos. Isso é querer controlar o corpo da mulher sim! O pessoal tem que parar de ver essas insistências como se fossem libertárias! Ok, pode até ser que a mulher não quer fazer tal prática porque ela internalizou coisas da cultura machista e isso é dialogável, mas gente, insistir como é feito não é ajudar, é controlar mesmo.

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    2. Concordo absolutamente com as duas manifestações. Essa semana o Blog Gorda e Sapatão postou um texto maravilhoso sobre o tema, que vai nessa linha também. Já leram? http://gordaesapatao.com.br/sexo-gordo-e-o-corpo-que-balanca-18-porque-nao-quero-ser-processada-nfsw/

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  4. Falar o quê...
    Não há como negar que o mundo, - e isso está mudando!, - foi 'feito' pelos homens, que assim fazem de tudo para manter este estatus quo. Não, não tentam fazê-lo publicamente, mas sim no escurinho do cinema...; bem escondidinho, do jeito que guardam seus medos e neuroses. Seria interessante que todos olhássemos para nosso interior, e verificássemos qual a razão deste medo de permitir que mulheres se relacionem da mesma maneira que nós.
    De minha parte descobri qual é o problema, bem, não era um 'problema' na verdade: descobri que o que me incomodava, o que causava insegurança, não era o fato de minha ex sair com quem quisesse, mas que o fizesse de uma maneira que me fazia sentir 'desrespeitado'. conversei e expliquei isso à ela. Ela é meio curtinha de ideias, mas essa é minha posição. Acho que RESPEITO é a palavra, ele contribui para que a monogamia feminina não entre em choque com a insegurança masculina.

    Mas, se o homem com quem se relacionam as monogâmicas forem totalmente tapados e ignorantes, se demostraram segurança e aquiesceram em levar adiante e depois se arrependeram mostrando quem realmente são, aí seria o caso de dispensá-los sumariamente, e procurar alguém que as mereçam.
    Simples assim.

    Ótimo post.

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  5. Eu sou feminista, mas não gosto de marcha de vadias e cia. Eu acho que as mulheres deveriam se reunir pra discutir coisas mais urgentes e a altura delas mesmas. Nós vivemos numa sociedade sem valores e a mulher devia prestar atenção nisso primeiro pra depois prestar em pinto. Isso não é repressão, é desalienação.É escolha.A mulher atual é alienada de si e castrada emocionalmente. Acha que ganha alguma coisa transando com 8 na balada, quando no fundo só está reforçando a anulação dos próprios sonhos. Sonho em viver numa sociedade onde não se eduque o menino para que ele respeite uma menina, mas eduque a menina a se respeitar.

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    1. Ana Nazaré, a gente já vive numa sociedade que não educa o menino para respeitar meninas, mas educa meninas para se respeitarem. Na sociedade, meninas são coagidas socialmente a não fazerem sexo, porque isso é errado ou a fazer sexo quando o parceiro quer, porque o sexo é legal, desde que seja para agradar os homens.

      Essa organização da sociedade apaga a sexualidade lésbica e digamos que "não educar o menino a respeitar" é um reforço à cultura do estupro e ao slutshaming.

      Sua mensagem tem um teor altíssimo de slut shaming, que é condenar a mulher pelo seu comportamento sexual.

      Mas esse texto mostra também que há homens que tentam usar a liberdade sexual feminina para coagir mulheres a fazer práticas sexuais que elas não querem, porque a sexualidade da mulher, independente do homem, ainda é um tabu. Ainda é vista como algo que "non ecziste". E essa forçação de barra dos caras parte justamente do fato de que homens não são educados para ver mulheres como sujeitas de si, não são educados para respeitar mulheres.

      Eu quero viver num mundo onde homens são educados para respeitar mulheres e que mulheres são educadas para se empoderarem e serem donas de si e seus desejos.

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    2. "Mulher se dar ao respeito" está super presente na nossa sociedade, somos educadas a se dar ao respeito desde que nascemos, esse é um termo super machista que diz qual o comportamento sexual que mulheres podem ter.

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